Nos últimos anos, a discussão sobre sustentabilidade das embalagens ganhou espaço em empresas, governos e até dentro das casas das pessoas. O público passou a questionar a origem dos materiais, sua reciclabilidade e o impacto que cada escolha causa no meio ambiente. Porém, muitas vezes esse debate acaba polarizado — e um dos maiores vilões da conversa costuma ser o plástico.
Porém, um conjunto de estudos recentes, incluindo o relatório Climate Impact of Plastics da McKinsey & Company, revela algo importante: nenhum material é sustentável em todas as situações. Plástico, papel, vidro e metal apresentam pontos fortes e pontos fracos, que variam conforme:
- a aplicação,
- a região,
- a infraestrutura de reciclagem,
- o ciclo de vida do produto,
- e o impacto no uso (como transporte, conservação e durabilidade).
Ou seja: a sustentabilidade real depende do contexto — e não existe uma solução única que valha para todo mundo.
Por que falar de plástico com mais equilíbrio?
O plástico se tornou alvo central em debates sobre poluição marinha, lixo, toxicidade e consumo excessivo. Esses problemas são reais e precisam ser enfrentados. Porém, ao focar apenas nos aspectos negativos, perdemos de vista algumas funções cruciais que o plástico desempenha em setores fundamentais da economia.
O estudo mostra que o papel do plástico em reduzir desperdícios, emissões e consumo de energia é amplamente subestimado. Exemplos incluem:
- diminuição do desperdício de alimentos (maior conservação, menor contaminação);
- embalagens mais leves que reduzem emissões no transporte;
- eficiência energética em construção e automóveis;
- economia de recursos naturais em comparação com materiais alternativos mais pesados.
Essa visão mais completa permite que empresas, governos e consumidores façam escolhas sustentáveis baseadas em dados — não apenas em percepções.
O que o estudo analisou
O relatório se concentrou no impacto climático dos plásticos, medido pela emissão total de gases de efeito estufa (GEE) em todo o ciclo de vida do produto, do início ao fim (“do berço ao túmulo”).
A análise considerou cinco setores que representam cerca de 90% de todo o consumo global de plásticos:
- embalagens,
- construção civil,
- bens de consumo,
- automotivo,
- têxteis.
Além disso, foram avaliadas aplicações reais — ou seja, situações em que materiais alternativos ao plástico já são usados em larga escala.
O resultado surpreendente: plástico emite menos GEE em 13 de 14 casos
Um dos achados mais relevantes do relatório é que, entre as aplicações analisadas, o plástico apresentou menor impacto de gases de efeito estufa em 13 de 14 cenários possíveis, quando comparado a alternativas como metal, vidro, papel ou compostáveis.
As reduções variam de 10% a 90%, dependendo do tipo de produto e de sua função.
Por quê?
Porque substituir plástico por materiais mais pesados ou menos eficientes pode:
- aumentar emissões de transporte,
- elevar o consumo de energia para produção,
- piorar o desempenho na conservação de alimentos,
- encarecer processos industriais,
- ou até aumentar o volume de resíduos.
E quando não existe substituto viável?
Em especial no setor alimentício, o estudo mostra que não há alternativas escaláveis para diversas embalagens plásticas. Em muitos casos, substituir o plástico simplesmente não preservaria o alimento com a mesma eficiência.
Isso importa porque:
- alimentos descartados geram mais emissão que a embalagem;
- reduzir o desperdício é uma das estratégias mais efetivas para combater o aquecimento global.
Ou seja: em vários setores, adotar mais plástico — e não menos — pode ajudar na descarbonização de curto prazo.
E quanto ao futuro?
O relatório considera ainda projeções para 2050, em um cenário de economia mais descarbonizada. Mesmo assim, o plástico continua competitivo em termos de emissões — desde que:
- avanços sejam feitos em reciclagem;
- aumente-se o uso de conteúdo reciclado;
- melhore a gestão de resíduos;
- reduza-se o descarte inadequado no meio ambiente.
Isso significa que a conversa sobre plástico não é sobre proibir, mas sobre evoluir. É necessário que haja conscientização para que as pessoas sejam capazes de recolher mais os resíduos e enviar para a reciclagem da maneira correta, além de terem acesso à inovação e à educação sobre descarte de plásticos.
Para ter acesso ao estudo completo e conferir todas as informações, clique aqui.
Por que esse relatório importa para o debate no Brasil?
O Brasil é um país com forte produção agrícola, cadeias logísticas extensas e infraestrutura heterogênea de reciclagem. Por isso, a escolha dos materiais precisa ser pensada com cautela — não apenas com base em percepções.
O plástico, quando usado de forma responsável e aliado a políticas de economia circular, pode:
- reduzir desperdício de alimentos,
- diminuir emissões de transporte,
- tornar produtos mais acessíveis,
- e acelerar a transição para uma economia mais eficiente e menos intensiva em carbono.
Conclusão: precisamos de um debate mais honesto e baseado em ciência
Plástico não é perfeito. Nenhum material é.
Mas o estudo mostra que, ao analisarmos o impacto climático de forma completa, em grande parte dos casos o plástico é a opção de menor impacto ambiental disponível hoje.
A discussão sobre sustentabilidade precisa reconhecer a importância científica e industrial do plástico, combater o descarte inadequado, incentivar a inovação e a reciclagem — e, acima de tudo, abandonar a visão simplista de que “plástico é sempre pior”.
O futuro da sustentabilidade passa por escolhas equilibradas, eficientes e baseadas em fatos — não por vilões e heróis.
Fonte:
https://www.mckinsey.com/industries/chemicals/our-insights/climate-impact-of-plastics
