Nos últimos anos, o debate sobre a reciclagem de plásticos tem se intensificado. Entre manchetes alarmantes e informações desencontradas, muitos consumidores passaram a duvidar se o esforço de separar e destinar corretamente os resíduos realmente faz diferença.
Mas o que dizem os dados e as entidades que vivem essa realidade todos os dias? O relatório Dispelling Plastic Recycling Myths, da National Waste & Recycling Association (NWRA), propõe uma visão mais realista — e otimista — sobre o tema, mostrando que a reciclagem funciona, sim, e tem um papel essencial na construção de uma economia circular mais eficiente.
A polêmica: será que a reciclagem de plásticos funciona?
Nos últimos anos, reportagens e organizações ambientais vêm questionando a real eficiência da reciclagem de plásticos. Títulos como “Recycling Plastic Is Practically Impossible” (NPR, 2022) e “Circular Claims Fall Flat Again” (Greenpeace, 2022) reforçam a ideia de que o sistema de reciclagem falhou.
Mas, segundo o relatório “Dispelling Plastic Recycling Myths”, da National Waste & Recycling Association (NWRA), essa percepção é distorcida. A entidade argumenta que os plásticos recicláveis são, de fato, encaminhados para a reciclagem — e que a desinformação sobre o tema desestimula a participação da população e atrasa o avanço das soluções.
Reciclar ainda vale a pena — e movimenta bilhões
Um dos principais pontos do relatório é que os plásticos recicláveis têm valor de mercado. O polietileno tereftalato (PET) chegou a valer US$ 1.000 por tonelada, e o polietileno de alta densidade (HDPE) natural, US$ 2.000 — valores superiores aos do aço ou do papelão reciclado.
Esse potencial econômico explica o investimento bilionário que o setor vem fazendo em novas plantas de triagem e tecnologia de separação. Reciclar é um negócio rentável, e a infraestrutura está em expansão.
O que realmente pode ser reciclado?
A confusão entre plásticos recicláveis e não recicláveis é uma das causas da baixa taxa global de reciclagem.
De acordo com a NWRA:
- Os plásticos #1 (PET) e #2 (HDPE) são amplamente reciclados.
- O polipropileno (#5), usado em potes de iogurte e cremes, já é aceito por mais da metade das centrais de triagem.
- Outros tipos, como filmes plásticos, copos descartáveis e utensílios, ainda não são processados em larga escala — embora possam ser reaproveitados.
Em 2018, os EUA reciclaram 29,1% das garrafas de PET e 29,3% das de HDPE natural, números modestos, mas significativos. Quando se considera apenas embalagens plásticas, a taxa sobe para 13,6%, o que mostra espaço para crescimento.
A confusão dos números: o erro de misturar tudo
Muitos relatórios que “provam” que a reciclagem de plásticos não funciona somam plásticos recicláveis e não recicláveis em uma mesma estatística.
Quando itens como fraldas, roupas ou utensílios plásticos (que não têm viabilidade técnica ou econômica para reciclagem) entram na conta, o resultado naturalmente despenca.
Segundo a NWRA, essa distorção leva o público a desacreditar o sistema, quando na verdade a reciclagem funciona bem para as resinas certas — desde que sejam corretamente separadas.
O desafio da volatilidade e o futuro da reciclagem
O preço dos materiais recicláveis é instável — podendo cair até 80% em um único ano. Por isso, o relatório defende a criação de mercados mais previsíveis, com metas de conteúdo reciclado mínimo em novos produtos.
A circularidade real depende de três fatores:
- Infraestrutura moderna para coleta e triagem.
- Design de embalagens que priorizem a reciclabilidade.
- Demanda constante por matéria-prima reciclada.
De um mundo sem plásticos a um mundo sem poluição plástica
A conclusão do relatório é direta: os plásticos não vão desaparecer — e nem deveriam.
O material tem vantagens ambientais em comparação a alternativas como vidro ou alumínio, especialmente no quesito emissão de gases de efeito estufa. O problema não é o plástico em si, mas a má gestão de seu descarte.
Por isso, o foco deve ser em um mundo sem poluição plástica, e não em um mundo sem plástico. Com políticas inteligentes e participação ativa da sociedade, a reciclagem pode — e deve — ser parte essencial dessa transição.
Fontes:
- National Waste & Recycling Association (NWRA), Dispelling Plastic Recycling Myths, 2023
- U.S. EPA, Advancing Sustainable Materials Management, 2018
- U.S. EPA, Advancing Sustainable Materials Management, 2018
- McKinsey & Company, Climate Impact of Plastics, 2022
