Quando pensamos em sustentabilidade, é natural imaginar que substituir plásticos sintéticos por materiais “naturais” seria o caminho ideal. No entanto, essa percepção ignora um ponto crucial: os plásticos sintéticos ajudaram — e ainda ajudam — a preservar recursos naturais, animais e ecossistemas. Banir esses materiais indiscriminadamente pode, na verdade, causar mais danos do que benefícios ao meio ambiente.
Uma história que começa com a conservação
Antes do surgimento dos plásticos sintéticos, a humanidade dependia amplamente de materiais retirados diretamente da natureza para fabricar produtos do cotidiano. Itens como pentes, jóias, bolas de bilhar e teclas de piano eram feitos com marfim de elefantes, carapaças de tartarugas e ossos de animais.
A demanda crescente por esses recursos, impulsionada pelo aumento da população, levou espécies à beira da extinção. A tartaruga-de-pente, por exemplo, foi caçada em escala industrial — estima-se que mais de nove milhões tenham sido mortas desde meados do século XIX. Já os elefantes enfrentaram o risco do desaparecimento devido à exploração desenfreada de suas presas para a produção de marfim.
Foi nesse contexto que os plásticos sintéticos se tornaram uma alternativa vital. Como destaca o ambientalista Michael Shellenberger, em *“Apocalypse Never: Why Environmental Alarmism Hurts Us All”*, é preciso superar a ideia de que o natural é automaticamente melhor. Os plásticos, segundo ele, foram essenciais para aliviar a pressão sobre a fauna silvestre.
A invenção que mudou tudo
Na década de 1860, com o preço do marfim em alta, um fabricante de bolas de bilhar ofereceu uma recompensa de 10 mil dólares a quem conseguisse encontrar um substituto viável para o material. O químico Leo Baekeland atendeu ao chamado ao criar a baquelite, uma resina sintética durável, moldável e resistente ao calor.
A baquelite logo ganhou diversas aplicações: bolas de bilhar, telefones, rádios, pentes, isolantes elétricos, entre outros. Mais do que uma inovação técnica, ela simbolizou uma virada na relação entre consumo e natureza. Outros plásticos sintéticos viriam a seguir, ampliando essa transformação e reduzindo a dependência de matérias-primas de origem animal e vegetal.
Preservando terras e espécies
Com a disseminação dos plásticos, foi possível poupar não apenas os animais, mas também vastas áreas de vegetação. Um exemplo claro é a borracha. Se o mundo dependesse exclusivamente da borracha natural, seria necessário expandir significativamente as plantações de seringueiras — com impactos diretos sobre florestas tropicais e biodiversidade.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a borracha sintética foi essencial para os esforços bélicos dos Estados Unidos, já que a maior parte do suprimento natural vinha de regiões controladas por nações inimigas. Graças à borracha sintética, foi possível manter a produção de pneus, cabos, navios e outros equipamentos vitais.
Fibras e acabamentos: o papel dos plásticos no vestuário e mobiliário
O mesmo raciocínio se aplica à indústria têxtil. Materiais como nylon, poliéster, vinil e acrílico passaram a complementar — e muitas vezes substituir — algodão, lã, seda e couro. Hoje, cerca de 60% dos tecidos usados no mundo são sintéticos, segundo o pesquisador Indur Goklany.
Essa mudança reduziu a pressão sobre rebanhos e plantações. As peles e os couros, por exemplo, perderam popularidade, o que contribuiu para a recuperação de espécies como os castores. Já o uso de acabamentos sintéticos para madeira, como o poliuretano, ajuda a evitar o desmatamento e o transporte de madeira de regiões remotas, como as florestas do sul da Ásia, de onde se extrai a goma-laca natural.
O custo ambiental de um mundo 100% “natural”
Imagine, por um momento, um mundo sem plásticos sintéticos. Seria necessário multiplicar lavouras de algodão, pastagens para gado e ovelhas, plantações de seringueiras, florestas para criação de bichos-da-seda, entre outros. Isso significaria ocupar mais terras, consumir mais água, energia e insumos agrícolas — ampliando o impacto ambiental de maneira significativa.
O verdadeiro desafio: a má gestão dos resíduos
Nada disso minimiza os sérios problemas causados pelo descarte inadequado dos plásticos. A poluição dos oceanos, os resíduos que se acumulam nos lixões e os impactos na fauna marinha são questões reais e urgentes. Mas culpar o material em si pode nos levar a soluções equivocadas.
O verdadeiro foco deve estar na gestão eficiente dos resíduos, na educação ambiental, na inovação em reciclagem e em políticas públicas que incentivem o uso responsável e o reaproveitamento de materiais. Banimentos e proibições generalizadas podem ter efeitos colaterais indesejados — como o aumento da pressão sobre recursos naturais e o retrocesso em avanços ambientais já conquistados.
Fonte:
https://insidesources.com/if-you-care-about-wildlife-oppose-plastics-bans/