Quando se fala em sustentabilidade e mudanças climáticas, o plástico costuma ocupar o papel de vilão. Sua associação com poluição, resíduos em oceanos e microplásticos faz com que seja visto como um material a ser eliminado. No entanto, estudos recentes mostram que a realidade é mais complexa: em muitos casos, os plásticos podem ser menos prejudiciais ao meio ambiente do que alternativas como vidro, papel ou alumínio.

O impacto real do plástico nas emissões

Atualmente, a produção e o descarte de plásticos são responsáveis por cerca de 3,4% das emissões globais de gases de efeito estufa. No entanto, substituir o plástico não levaria a um cenário mais sustentável.

O que pouca gente leva em conta é que materiais alternativos geralmente exigem mais energia e recursos para serem produzidos, transportados e reciclados. Isso pode resultar em emissões maiores ao longo do ciclo de vida de cada produto.

O que dizem os estudos mais recentes

Um estudo liderado pela Universidade de Sheffield, publicado em Environmental Science & Technology, analisou 16 aplicações diferentes do plástico em setores como embalagens, construção, transporte e têxteis. Os pesquisadores compararam os impactos ambientais dos plásticos com materiais substitutos, usando a metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida (LCA).

O resultado foi surpreendente: em 15 dos 16 casos analisados, os plásticos tiveram de 10% a 90% menos emissões de gases de efeito estufa do que alternativas como vidro, alumínio, papel ou algodão.

Isso significa que, apesar de seu estigma, o plástico frequentemente é a escolha mais eficiente em termos climáticos.

Por que o plástico pode ser mais eficiente?

A principal vantagem do plástico está em sua leveza e versatilidade. Embalagens plásticas, por exemplo, consomem menos energia para serem fabricadas e transportadas. Um caminhão carregado de garrafas plásticas transporta muito mais unidades do que se estivesse carregando garrafas de vidro, que são mais pesadas.

Além disso, a produção de vidro e alumínio demanda temperaturas extremamente altas, o que implica em maior gasto de energia e consequentes emissões de carbono. O papel, embora renovável, exige grande quantidade de água e muitas vezes não é tão durável quanto o plástico, gerando desperdício adicional.

O verdadeiro problema: gestão inadequada

Essas descobertas não significam que o plástico está livre de problemas. O grande desafio está em como o utilizamos e o descartamos. A poluição por plásticos em oceanos, rios e solos continua sendo uma questão urgente. O acúmulo de resíduos e a presença de microplásticos em ecossistemas levantam preocupações legítimas.

Ou seja, o problema não está necessariamente no material em si, mas em sua gestão ineficiente. Falta de sistemas de reciclagem adequados, coleta seletiva insuficiente e produtos mal projetados agravam a situação.

Caminhos para uma solução equilibrada

Em vez de focar em eliminar o plástico, especialistas defendem políticas voltadas para melhorar sua circularidade. Isso inclui:

  • Aumentar a reciclagem mecânica e química para transformar resíduos plásticos em novas matérias-primas.
  • Desenvolver embalagens inteligentes, projetadas para serem reutilizadas ou recicladas com mais eficiência.
  • Investir em tecnologias de captura e reaproveitamento de carbono ligadas à cadeia produtiva do plástico.

Grandes empresas, como Nestlé, PepsiCo e Procter & Gamble, já estão testando métodos inovadores de reciclagem que podem reduzir drasticamente o impacto ambiental do material.

Uma visão menos simplista

A ideia de simplesmente trocar o plástico por outros materiais pode soar atraente, mas nem sempre traz os resultados ambientais esperados. Como mostrou o estudo da Universidade de Sheffield, em quase todos os casos analisados, substituir o plástico por alternativas resultaria em mais emissões de gases de efeito estufa.

Isso não significa que devemos ignorar os problemas que ele causa, mas sim que a discussão precisa ser mais equilibrada. O plástico pode ser parte da solução, desde que seja utilizado de forma inteligente e integrado a sistemas de economia circular.

O debate sobre sustentabilidade costuma simplificar o plástico como vilão absoluto. Porém, evidências científicas recentes mostram que, em termos de emissões de carbono e eficiência energética, ele muitas vezes é menos prejudicial do que seus substitutos.

Portanto, o foco não deveria estar em abolir o plástico, mas em gerenciá-lo melhor.

Com inovação, políticas públicas eficazes e consumo consciente, o material que hoje é visto como problema pode se transformar em um aliado importante na luta contra as mudanças climáticas.

Fontes:

https://www.economist.com/international/2025/04/16/plastics-are-greener-than-they-seem

https://sheffield.ac.uk/news/replacing-plastics-alternatives-worse-greenhouse-gas-emissions-most-cases-study-finds?utm_source=chatgpt.com

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38291786

https://phys.org/news/2024-04-plastics-alternatives-worse-greenhouse-gas.html?utm_source=chatgpt.com