Bioplásticos são considerados uma opção mais sustentável, porque teoricamente têm maior  potencial de degradação do que os plásticos tradicionais. Mas isso é realmente verdade?

Para entendermos melhor, é importante compreender os conceitos “degradável” e “biodegradável” e “compostável”, conhecer os tipos de bioplástico existentes e quais impactos ao meio ambiente o material pode provocar.

Tipos de plástico de acordo com a degradação

Os plásticos podem ser considerados degradáveis, biodegradáveis ou compostáveis, dependendo das condições necessárias para que esse processo ocorra.

Degradável

Todo plástico é degradável, até mesmo o plástico tradicional, mas o fato de poder ser quebrado em pequenos fragmentos ou pó não significa que os materiais retornarão à natureza.

Alguns aditivos presentes nos plásticos tradicionais agilizam a degradação. O plástico fotodegradável se decompõe mais facilmente à luz do sol; o plástico oxo-degradável se desintegra mais rapidamente quando exposto ao calor e à luz.

Biodegradável

O plástico biodegradável pode ser completamente decomposto em água, dióxido de carbono e composto por microorganismos nas condições certas.

“Biodegradável” implica que a decomposição acontece no intervalo de semanas a meses. Os bioplásticos que não se biodegradam tão rapidamente são chamados de “duráveis”, e alguns bioplásticos feitos de biomassa que não podem ser facilmente quebrados por microorganismos são considerados não biodegradáveis.

Compostável

O plástico compostável sofre biodegradação em um local de compostagem. Microorganismos decompõem o material em dióxido de carbono, água, compostos inorgânicos e biomassa na mesma taxa que outros materiais orgânicos na pilha de compostagem, sem deixar resíduos tóxicos.

Tipos de bioplástico

Atualmente, os bioplásticos são usados em itens descartáveis como embalagens, recipientes, canudos, sacolas e garrafas, e em itens não descartáveis como carpetes, tubulação plástica, carcaças de telefones, impressão 3D, isolamento de carros e implantes médicos. 

Existem dois principais tipos de bioplásticos.

PLA

O PLA (ácido poliláctico) é geralmente feito a partir dos açúcares no amido de milho, mandioca ou cana-de-açúcar. Ele é biodegradável, neutro em carbono e comestível.

Para transformar milho em plástico, os grãos de milho são imersos em dióxido de enxofre e água quente, onde seus componentes se decompõem em amido, proteína e fibra. Os grãos são então moídos e o óleo de milho é separado do amido. O amido é composto por longas cadeias de moléculas de carbono, semelhantes às cadeias de carbono no plástico derivado de combustíveis fósseis. Alguns ácidos cítricos são misturados para formar um polímero de cadeia longa (uma molécula grande composta por unidades menores repetidas) que é o bloco de construção para o plástico.

O PLA pode parecer e se comportar como polietileno (usado em filmes plásticos, embalagens e garrafas), poliestireno (isopor e talheres de plástico) ou polipropileno (embalagens, peças de automóveis, têxteis).

PHA

O PHA (polihidroxialcanoato) é produzido por microorganismos, às vezes geneticamente modificados, que produzem plástico a partir de materiais orgânicos. Os micróbios são privados de nutrientes como nitrogênio, oxigênio e fósforo, mas recebem altos níveis de carbono. Eles produzem PHA como reservas de carbono, que armazenam em grânulos até terem mais dos outros nutrientes de que precisam para crescer e se reproduzir. As empresas podem então colher o PHA produzido pelos micróbios, que possui uma estrutura química semelhante à dos plásticos tradicionais. Por ser biodegradável e não prejudicar tecidos vivos, o PHA é frequentemente usado em aplicações médicas, como suturas, suportes, placas ósseas e substitutos de pele; também é usado em embalagens descartáveis de alimentos.

Os efeitos colaterais da produção de bioplástico

Embora os bioplásticos sejam geralmente considerados mais ecológicos do que os plásticos tradicionais, um estudo de 2010 da Universidade de Pittsburgh descobriu que isso não era necessariamente verdadeiro quando o ciclo de vida dos materiais é levado em consideração.

O estudo comparou sete plásticos tradicionais, quatro bioplásticos e um feito a partir de combustíveis fósseis e fontes renováveis. Os pesquisadores determinaram que a produção de bioplásticos resultou em maiores quantidades de poluentes, devido aos fertilizantes e pesticidas usados no cultivo das safras e ao processamento químico necessário para transformar material orgânico em plástico. Os bioplásticos também contribuíram mais para a redução do ozônio do que os plásticos tradicionais, e exigiram extenso uso de terras. O B-PET, o plástico híbrido, foi considerado o que tinha maior potencial para efeitos tóxicos em ecossistemas e o maior número de carcinógenos, e teve a pior pontuação na análise de ciclo de vida porque combinava os impactos negativos tanto da agricultura quanto do processamento químico.

Outros problemas

Embora a biodegradabilidade dos bioplásticos seja uma vantagem, a maioria deles necessita de instalações industriais de compostagem de alta temperatura para se decompor, e poucas cidades possuem a infraestrutura necessária para isso. Como resultado, os bioplásticos frequentemente acabam em aterros sanitários onde, na ausência de oxigênio, podem liberar metano, um gás de efeito estufa 23 vezes mais potente que o dióxido de carbono.

Quando os bioplásticos não são descartados adequadamente, eles podem contaminar lotes de plástico reciclado e prejudicar a infraestrutura de reciclagem. Se o bioplástico contaminar PET reciclado (tereftalato de polietileno, o plástico mais comum, usado para garrafas de água e refrigerantes), por exemplo, todo o lote pode ser rejeitado e acabar em um aterro sanitário. Portanto, são necessárias correntes de reciclagem separadas para descartar adequadamente os bioplásticos.

Pesquisas para a produção de bioplástico

Diversos estudos estão sendo conduzidos a fim de encontrar uma maneira mais ecológica e sustentável de produção de bioplástico, utilizando águas residuais, resíduos sólidos, cianobactérias e caseína (proteína do leite).

Todas essas tentativas têm se mostrado eficientes, apresentando menor pegada ambiental. No entanto, é preciso avaliar se essas opções têm capacidade de adesão por boa parte da população, considerando aspectos socioeconômicos que envolvem a introdução de um novo produto no mercado, além da capacidade produtiva para atender uma demanda em larga escala.

Atualmente, é difícil afirmar que os bioplásticos são mais ecologicamente corretos do que os plásticos tradicionais quando todos os aspectos de seu ciclo de vida são considerados: uso de terra, pesticidas e herbicidas, consumo de energia, uso de água, emissões de gases de efeito estufa e metano, biodegradabilidade, reciclabilidade e mais. À medida que pesquisadores ao redor do mundo trabalham para desenvolver variedades mais verdes e processos de produção mais eficientes, os bioplásticos têm potencial para ajudar a reduzir nossa pegada de carbono, mas isso ainda está longe da realidade atual.

Portanto, a melhor saída é aproveitar o plástico tradicional o máximo possível, encaminhando o material para reciclagem ao fim de sua vida útil.

Fonte:

https://news.climate.columbia.edu/2017/12/13/the-truth-about-bioplastics/