Em um mundo que está cada vez mais preocupado com a destinação dos resíduos, a poluição e a redução da emissão dos gases responsáveis pelo aquecimento global, tornou-se essencial fazer produtos ecologicamente mais eficazes. Algumas empresas já estão investindo milhões na renovação do processo de produção para cumprir o fechamento do ciclo e a promessa de fazer parte da economia circular. Um dos desafios para isso é que alguns consumidores não sabem nada sobre esse assunto e nem mesmo entende por que deveria se importar. 

Os usuários finais precisam saber o valor agregado desses produtos e os benefícios que eles trazem.  O conceito de obsolescência programada infelizmente ainda está muito em evidência na fabricação de hoje. O problema é que quando a obsolescência começou não existia a sensação de que os recursos globais teriam alguma chance de se esgotar. Hoje, a realidade é bem diferente. A quantidade de resíduos gerados pelos modelos de produção predominantes é assustadora. Embora seja uma ideia maravilhosa que as pessoas diminuam o uso pessoal de produtos para salvar o planeta, é importante ressaltar que isso não faz sentido do ponto de vista econômico. 

Mas se fosse possível combinar essas duas coisas? Ao comprar e consumir seguindo os princípios da circularidade, os produtos que você  está comprando não vão parar em aterros sanitários.  É aqui que entra a importância da economia circular. Quando você compra um produto criado seguindo esta filosofia, isso significa que todos os resíduos que vêm do ciclo de produção e do próprio produto são recolhidos e depois voltam para o processo de produção. Sendo assim, nada acaba como resíduo. Vamos falar mais sobre a obsolescência programada e a sua relação com  a economia circular no texto abaixo.

O que é obsolescência programada? 

Um bom exemplo para entender o que é obsolescência programada é a frequência com que trocamos nossos celulares hoje. Os primeiros aparelhos eram muito resistentes e muito duráveis, e era possível ter o mesmo celular por alguns anos. Hoje, seu aparelho provavelmente vai começar a travar, quebrar algum componente ou apresentar algum defeito em muito menos tempo, e você precisará trocá-lo. A esta escolha deliberada de criar produtos que precisarão ser substituídos chamamos obsolescência programada. E para uma sociedade baseada no consumo e no avanço tecnológico, é interessante que seja assim. Afinal, se o produto for muito durável, os clientes só precisarão comprá-lo uma vez. Ou seja, eles não têm motivo para voltar a comprar. E todos querem repetir negócios. 

Originalmente, a obsolescência planejada, que também é conhecida como obsolescência programada, foi criada pelo notório Cartel de Phoebus dos anos 1920 e 30. Esse foi o primeiro cartel mundial e era composto pelos principais fabricantes de lâmpadas da época. O cartel decidiu que todos produziriam lâmpadas com uma vida útil artificialmente limitada a 1.000 horas para forçar a compra antes do tempo.  Na época, outras lâmpadas comercializadas chegavam a 2.500 horas. É óbvio o motivo pelo qual as empresas adotam essa abordagem. Eles precisam ganhar dinheiro, e para isso precisam vender. Mas em uma época em que estamos mais conscientes do que nunca sobre o desperdício e seu impacto no meio ambiente, por quanto tempo é possível continuar com isso?

Obsolescência programada exemplos:

A Apple foi processada em 2017 pelo uso da obsolescência programada em alguns de seus modelos de iPhone

Para dar outros exemplos, é difícil imaginar os móveis de hoje enfeitando as lojas de antiguidades de amanhã. Eles são feitos para ter menos durabilidade e precisarem ser trocados. Outros exemplos são as roupas que rasgam após um certo tempo de uso, os pneus de automóveis que se desgastam após 48.000 km, computadores, telefones celulares ou tablets que não funcionam com software ou aplicativos atualizados e dispositivos eletrônicos com baterias difíceis de substituir.

O escândalo de 2017 em que a Apple se viu envolvida é outro exemplo clássico de obsolescência planejada. Os usuários foram forçados a atualizar seus modelos de iPhone porque as atualizações regulares de software necessárias para manter a segurança de seus telefones estavam fazendo com que os modelos com baterias mais antigas ficassem mais lentos. E, como você não pode trocar a bateria de um iPhone, era necessário comprar um novo. 

Obsolescência programada e sustentabilidade

A obsolescência planejada trabalha contra a sustentabilidade. Cada vez que um produto de consumo é jogado no lixo ou despejado em um aterro sanitário, isso prejudica nosso meio ambiente a longo prazo. Sempre que um produto obsoleto precisa ser substituído, uma matéria-prima nova deve ser usada. Um substituto deve então ser fabricado (o que pode causar poluição do ar e sonora). E, finalmente, o produto deve chegar até o consumidor e o processo de entrega ainda depende principalmente do uso de combustíveis fósseis.

Quão significativa é a obsolescência planejada?

A vida útil de dispositivos e aparelhos elétricos está ficando mais curta. A Agência Ambiental alemã encomendou um estudo que conclui que muitos eletrodomésticos têm vida útil muito curta e que isso é ecologicamente inaceitável. A fabricação de produtos consome recursos muito importantes. Além disso, a produção de aparelhos novos aumenta os poluentes e gases do efeito estufa que são uma pressão sobre o meio ambiente e o clima.

É hora de pensar sobre os requisitos mínimos de vida útil e durabilidade do produto. Talvez a resposta seja um período mínimo de durabilidade para produtos eletrônicos. Muitos dispositivos são substituídos – devido a funções mais lentas ou baterias inacessíveis – embora eles ainda estejam em boas condições de funcionamento. 

A economia circular X obsolescência programada

Um bom antídoto para o desperdício gerado pela obsolescência programada é a economia circular.  Esse sistema trata de manter os produtos em circulação pelo maior tempo possível. Isso significa que os produtos precisam ser construídos para durar mais e poder serem consertados e usados ​​repetidamente. Para isso os produtos terão sempre que oferecer peças de reposição disponíveis.

Essa circularidade pode ser incorporada a um modelo de negócios? 

Sim, é possível. Porém, isso significa projetar produtos que resistam ao tempo. Isso significaria priorizar a criação de produtos que podem ser atualizados ou até vendidos para uso de outros quando o comprador desejar uma mudança. Pode também significar oferecer mais opções de alugar em vez de possuir. 

Outra opção é oferecer produtos em segunda mão ou recondicionados ao lado de novos, e com isso atingir os consumidores que têm um orçamento menor. Caso nada disso possa ser feito, os produtos devem, pelo menos, ser capazes de ser decompostos em materiais que podem voltar para a cadeia de abastecimento. 

Como podemos aplicar a economia circular no contexto que temos hoje?

Com a economia circular sendo priorizada, seria ideal que as mercadorias que ainda funcionam, mas que o consumidor quer trocar por um modelo mais moderno, fossem devolvidas em pontos de coleta. Posteriormente, esses produtos usados seriam reintroduzidos em circulação, ao invés de ir para o aterro. Outra opção interessante de coleta também, é que o cliente já deixe na loja seu produto velho ao comprar outro. Por exemplo, ao comprar uma TV nova, o cliente já deixaria a sua antiga.

Obviamente, os produtos que se desintegram ou se quebram de forma irreversível durante o uso estariam fora desse esquema.  Porém, mesmo os que não possam ser usados por outras pessoas precisariam ser biodegradáveis ​​ou ambientalmente benignos. Tudo o mais que está só  desatualizado precisaria voltar a circular. Lugares que recebem doações e as plataformas como a OLX, Enjoei e outros encorajam o reaproveitamento de produtos, mas ainda é mais comum que as pessoas joguem no lixo o que não usam mais. Afinal, jogar fora ainda dá menos trabalho do que doar ou vender.

O futuro a partir dessa nova forma de consumo

Nem é preciso dizer que usar a economia circular ao invés da obsolescência programada seria muito diferente do que temos hoje. Essa nova forma de ver a utilidade das coisas  desencorajaria as compras desnecessárias. A circularidade pode potencialmente melhorar a situação e levar a sociedade em direção ao objetivo mais desejável de preservar o meio ambiente.

Cabe aos consumidores exigir mais dos fabricantes de eletrônicos. Quer isso signifique garantias de duração maiores ou a capacidade de reparar seus dispositivos com facilidade. Essas empresas fabricantes podem fazer melhor. Por enquanto, reciclar smartphones e dispositivos é uma forma de reduzir a poluição e as marcas de terra associadas aos processos de fabricação.